A obra "páginas de ouro da poesia brasileira" propõe um diálogo entre o valor simbólico da poesia e a materialidade do livro como suporte. Reunindo páginas retiradas de livros antigos de poesia, a artista utiliza aquarela, guache e folha de ouro para transformar cada página em uma composição visual única. O uso da folha de ouro remete à ideia de valor e preciosidade, enquanto as intervenções pictóricas reinterpretam o texto poético em camadas visuais. O projeto parte de um contexto irônico: o livro original continha exclusivamente poetas homens. Como resposta, a artista introduz textos de algumas poetas brasileiras modernas e contemporâneas e cria seus próprios poemas, assumindo o papel de uma voz feminina que ocupa e expande esse espaço historicamente limitado. Essa escolha carrega um tom de humor crítico, já que toda seleção literária — ou curatorial — é sempre parcial e nunca neutra, e o trabalho busca evidenciar esse fato.

O título da obra, "páginas de ouro da poesia brasileira", faz referência tanto ao valor histórico e cultural da poesia brasileira quanto à apropriação literal da folha de ouro, que confere um caráter quase sagrado às páginas. Porém, essa sacralidade é propositalmente subvertida: ao cobrir literalmente uma página com folha de ouro, a artista brinca com a literalidade da metáfora e expõe o caráter arbitrário e subjetivo do valor atribuído à palavra escrita.